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Poesias › 10/11/2021

QUEM É ESSE HOMEM?

Que vejo ali encostado,
Naquela parede de rua,
Todos os dias está,
Quase no mesmo lugar,
Sentado no chão.
Se não lhe dói a bunda,
Ferido está seu coração.
Sua roupa, cada vez mais suja,
Tão suja que já não sei a cor.
Quem é esse homem?
Não sei se tem saúde,
Se sente alguma dor.
E o que diria sobre o amor?
Quando escovou seus dentes?
Quando tomou um banho quente?
Quando vestiu essa roupa?
Quando conversou meia hora com alguém?
Quando penteou seus cabelos?
Parecem bem embaraçados!
Calça uns sapatos de pano e borracha
Muito sujos também.
“Onde urinar? Onde defecar?”
Será que ainda tem lágrimas
Ou já começaram a secar?
Como será sua voz?
Pode ser muito bonita
Ou, quem sabe, é mudo.
Vejo um pau do seu lado,
Encostado na parede.
Parece uma bengala
Para se proteger às vezes.
Aos seus pés um cãozinho
Com quem, por certo, conversa,
Que o ouve e lhe dá carinho,
Com quem divide o resto dos restos
De seus alimentos.
Quem é esse homem?
Barbudo e triste,
Parece um pouco com Cristo.
Nem um sorriso nos lábios…
Pelo tempo que o observo,
Posso dizer que não existe.
Onde dorme esse homem?
Quais sonhos tem para sonhar?
Em que ombros pode chorar?
Onde foi ou é o seu lar?
Isso mesmo! E sua família?
Pai, mãe, irmãos, esposa, filhos, namorada…
Meu Deus! Será que tudo isso
Tem a ver com sua amada?
Qual seu protocolo de felicidade?
Esse pode ser seu jeito de ser feliz
Ou de mostrar para todo mundo
O tamanho de sua tristeza.
Onde estão os seus amigos?
Se é que tem,
Bem longe, com certeza.
Se nossos olhos vissem almas
Ao invés de corpo,
Poderiam bater muitas palmas
Para quem esconde tanta vida
Numa aparência de morto.
Mas afinal, quem é esse
homem
De barbas grandes, ali no chão?
Quem é esse desiludido?
De projetos explodidos
Ou… implodidos.
Um médico…
Um juiz…
Um cientista…
Um professor…
Um pai de família…
Um enfermeiro…
Um fazendeiro…
Um atleta…
Um cantor…
Um gari…
Um pedreiro…
Um poeta…
Quem sabe sou eu
Morrendo em alguém
Cujos sonhos e planos
Nem lembrar convém!
Ele nem pede nada.
Se fosse pedir, o que seria?
Escutá-lo arriscaria!
Conhecer sua trajetória,
Ajudar a escrever sua história.
Mas será que alguma coisa
Ainda precisa pedir?
Se não tem onde ficar,
Nem mesmo para onde ir,
Nem alguém para ouvir?
Vive de déu?? em déu ???,
Sofrendo, vagando ao léo.
Permita, Deus, permita,
Como prêmio desta olimpíada
Que ousaríamos chamar de vida,
Que tenha um lugar no céu!

Alaôr Ferreira de Freitas, poeta e escritor.

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